Reclassificação da Rocinha pelos IBGE gera opiniões entre manicures, b. boys, líderes e moradores sobre a comunidade, com foco em empreendedorismo, situação social e agências dos Correios.
A atualização do censo 2022 pelo IBGE trouxe uma revelação significativa sobre a demografia da favela mais populosa do Brasil: a Rocinha, localizada no Rio de Janeiro. A Rocinha retoma seu posto de líder em número de residentes e domicílios. Muitas pessoas residentes há anos na Rocinha compartilham opiniões sobre o seu reconhecimento como a maior favela do Brasil.
Alguns residentes, como Rosemary, que inaugurou um salão de beleza em um local de lavanderia, e Maria Consuelo, uma articuladora social comunitária, reconhecem a importância desse reconhecimento. Rosemary observa que a Rocinha não apenas é conhecida por sua grandeza demográfica, mas também por sua capacidade de superar desafios. Maria Consuelo destaca a necessidade de investimentos em infraestrutura e serviços para melhorar a qualidade de vida dos residentes. Para eles, o reconhecimento da Rocinha como a maior favela do Brasil é um passo importante para estimular ações concretas em seu favor.
Uma Visão Diferente da Rocinha
Há oito anos, Rosemary Pereira Cavalcante, 57 anos, é a proprietária do Studio Tetemere, na favela da Rocinha. Além de trabalhar no salão de beleza, que foi inaugurado na lavanderia de casa, ela se tornou uma figura de liderança na comunidade, cuidando de José Severino, de 85 anos, que, sem a ajuda dela, iria viver nas ruas. Quando perguntada sobre a Rocinha, ela enfatiza a necessidade de uma instituição para cuidar dos idosos, que são deixados sozinhos enquanto as pessoas trabalham e coloca as crianças em creches. Isso é uma situação comum e crescente nas favelas, onde o empreendedorismo é uma ferramenta importante para o crescimento. Rosemary abriu o salão com a ajuda do Sebrae.
A ocupação da Rocinha tem uma história centenária, sendo uma rota de fuga para escravos em direção aos quilombos. Foto: Fernando Frazão/AB Entre as freguesas de Rosemary está Maria Consuelo Pereira dos Santos, uma escritora e articuladora social comunitária que se identifica assim. Com 61 anos, ela chegou na Rocinha em 1994, no dia da conquista da Copa do Mundo da seleção brasileira. Ela pondera que ‘a volta ao ranking vai ser boa, mas as questões estruturais continuam’. Ela relata ‘perdas muito grandes’, especialmente agências de bancos e Correios. ‘Fizemos campanha, abaixo-assinado, brigamos.Os bancos federais fazem muita diferença para a gente’.
Graças a Deus, houve uma recontagem’, comemora ativista. William de Oliveira é descendente de várias gerações na Rocinha e não aceitou ficar em segundo lugar e comemorou a volta ao topo. Quando o IBGE classificou a Rocinha como a segunda maior favela brasileira, atrás da Sol Nascente, em Brasília, foi como se o time do coração de William de Oliveira caísse para a segunda divisão. Com 54 anos, nascido e criado na Rocinha, ativista social conhecido, ele fez um texto indignado no Facebook. ‘É com muito pesar que recebemos essa informação que tenta nos retirar uma referência que alcançamos há décadas’, escreveu. Desta vez, ‘a gente fica muito mais feliz com a volta ao primeiro lugar.Não dava para aceitar ficar em segundo’, diz Oliveira, que entre outras atividades, preside o Instituto Missão Rocinha.
‘O que traz de benefícios?’, pergunta morador Diretor do Museu Sankofa, Antonio Carlos Firmino não se empolga com o IBGE, pois os problemas continuam. Para Antonio Carlos Firmino, fundador e diretor do Museu Sankofa, que existe desde 2009 na Rocinha, ‘o retorno ao primeiro lugar, a princípio, não traz benefícios’. O que traria? ‘Eles viriam se nós, moradores, formos mais organizados através das instituições locais e reivindicarmos nossos direitos básicos’. Firmino pergunta ‘o que isso traz de benefícios?Um olhar maior dos governos? Se nem nas menores favelas conseguem fazer algo, imagina na maior. O que traz de benefícios para a sociedade comum?’
Fonte: @ Terra
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