Levantamento divulgado aponta que entraves para o ensino integral afetam jovens de municípios de diferentes portes, com entrevistados mais pobres. Valores pagos precisam de ajustes necessários.
De acordo com uma pesquisa recente realizada pelo Datafolha em parceria com a ONG Todos Pela Educação, foi constatado que a maioria dos estudantes deseja conciliar os estudos com o trabalho durante o ensino médio. Os dados apontam que 7 em cada 10 jovens estão interessados em ingressar no mercado de trabalho enquanto continuam com a educação formal, almejando um salário médio de R$ 860 por mês.
Essa disposição dos alunos em se dedicar tanto aos estudos quanto ao trabalho reflete uma preocupação com o seu desenvolvimento profissional e financeiro. É fundamental que a sociedade e as instituições de ensino apoiem esses jovens, possibilitando que eles conciliem essas duas importantes esferas da vida de forma equilibrada.
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Estudantes enfrentam desafios para aderir ao ensino integral
Um dos principais obstáculos para que o ensino integral — tão valorizado por especialistas na melhoria da educação — conquiste maior aceitação entre os estudantes, aponta o levantamento divulgado. Um terço dos 462 alunos entrevistados revelam que não se matriculam em escolas integrais por necessidade ou vontade de conseguir um emprego.
O levantamento foi realizado entre janeiro e fevereiro de 2024, com jovens de 14 a 16 anos que ingressaram no ensino médio (público ou privado) no início deste ano. Abrangendo todo o território nacional, a pesquisa incluiu 113 municípios de diferentes portes, de todas as regiões.
Pergunta do Datafolha: Qual é o principal motivo de você não estudar em escola de tempo integral?
- 26%: O período integral é muito cansativo.
- 20%: Desejo trabalhar para ter meu próprio dinheiro e independência financeira.
- 15%: Falta de tempo para outras atividades não relacionadas ao trabalho (como cursos, esportes etc.).
- 14%: Falta de vontade de passar mais tempo na escola.
- 13%: Necessidade de trabalhar para ajudar minha família financeiramente.
- 4%: Desconhecimento sobre as escolas em tempo integral.
- 3%: Inexistência na região/cidade.
- 1%: Dedicação aos esportes durante toda a semana/à tarde.
- 1%: Grande distância da escola integral; necessidade de transporte.
- 2%: Desconhecimento/outras respostas.
💰Qual a expectativa de remuneração mensal dos estudantes?
➡️Em média, os estudantes do ensino médio esperam receber R$ 860 por mês.
➡️Entre os entrevistados mais pobres (com renda familiar mensal inferior a 2 salários-mínimos), a expectativa é ganhar R$ 760. ➡️Verifica-se uma disparidade entre os gêneros também: as mulheres estimam receber R$ 806; e os homens, R$ 908.
Os valores pagos pelo Pé-de-Meia, programa recém-lançado pelo governo federal para fomentar a permanência escolar de jovens carentes (leia mais abaixo), não atingem esses montantes desejados pelos alunos:
- incentivo para matrícula: R$ 200 por ano;
- incentivo de frequência: R$ 1.800 por ano;
- incentivo para conclusão do ano: R$ 1.000 por ano;
- incentivo para o Enem: parcela única de R$ 200.
Pé-de-Meia demanda ajustes, aponta Todos Pela Educação
Segundo o Ministério da Educação (MEC), uma das principais causas de abandono no ensino médio é a obrigação de trabalhar e contribuir financeiramente com a família.
Para evitar a evasão escolar, o governo lançou o programa Pé-de-Meia: os estudantes mais pobres matriculados em instituições de ensino, presentes nas aulas, aprovados e participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) podem receber até R$ 9,2 mil ao longo de três anos.
Entenda aqui as regras e veja o cronograma de pagamento. Para o Todos Pela Educação, a iniciativa segue a direção correta, porque:
- une pagamentos mensais a outros retidos na poupança;
- repassa o dinheiro diretamente aos alunos, não aos responsáveis;
- impõe condições mínimas de frequência escolar;
- oferece um apoio financeiro aos jovens.
Conforme os resultados do Datafolha, especialistas da ONG concordam que é crucial um incentivo financeiro maior para os jovens de escolas integrais, que não teriam a possibilidade de trabalhar nem a meio período.
‘Para o estudante que planeja ou necessita trabalhar, frequentar uma escola integral continua sendo bastante desafiador, mesmo com o auxílio do Pé-de-Meia.
Uma alternativa para minimizar esse problema é decidir, na elaboração da política, que estudantes matriculados em escola de tempo integral recebam repasses regulares adicionais ao valor estabelecido pela política’, afirma o posicionamento do Todos Pela Educação.
Fonte: © G1 – Globo Mundo
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