Victor Andrade, formado na Vila, encontrou paz na Portuguesa depois de rodar Europa e Brasil. Ele relembra fase de ser o “novo Neymar”: “Ilusão perigosa”.
O pseudo Neymar da Portuguesa, considerado por muitos como o novo Vitor Andrade, terá a oportunidade de mostrar seu talento na partida contra o Santos, neste domingo. Após uma temporada difícil, a Lusa conseguiu se classificar para as quartas de final do Paulistão e está determinada a surpreender os favoritos.
O cuidado com o jovem ex-Menino da Vila é conhecido por sua habilidade e velocidade em campo, características que podem ser fundamentais para ajudar a Portuguesa a obter um bom resultado contra o time da casa. Com apenas 22 anos, o jogador tem muito a provar e está motivado a mostrar seu valor neste confronto decisivo.
O pseudo Neymar Victor Andrade
Já o ex-Menino da Vila Victor Andrade chegou ao Canindé aos 28 anos para mais uma chance de reafirmação no futebol brasileiro. Após passar pela Europa e rodar por alguns clubes do Brasil desde 2019, o jogador tenta na Lusa ser o destaque que todos sempre disseram que ele seria.
Seguro de si, diz que deixou para trás a fama de marrento que carregava no Santos: – Falavam que eu era problemático, falavam do meu extracampo, isso aí não sei de onde tiraram. Criou-se essa imagem não sei de onde. A gente vive num mundo de internet, de muita fake news, de muita mentira. Você lê, comenta com alguém e vira uma bola de neve. Mas a verdade uma hora aparece.
Hoje me olham com um olhar melhor, como um profissional, que é o que sempre fui. Na entrevista ao ge, o ex-Menino da Vila Victor Andrade falou bastante sobre a má fama que adquiriu no futebol quando ainda era um jovem em ascensão.
Cobrado publicamente por Muricy Ramalho para ser mais humilde, o jogador, que despontou em 2012, acredita que faltou cuidado do técnico com um jovem de 16 anos: – Muricy sempre trabalhou com jogador pronto, é um grande treinador, que ganhou tudo, sou eternamente grato a ele. Mas acho que faltou (cuidado), faltou ele saber lidar com a situação, não só comigo, mas com outros também.
Mas nunca foi intencional, era o jeito dele. Eu era muito impulsivo também, fui aprendendo com o tempo. Sou muito grato por ele ter me botado no profissional. – É que eu sempre fui muito bocudo, respondão. E no futebol existe hierarquia, tem gente que você pode responder e tem gente que você não pode.
Eu respondia a qualquer pessoa, entrava em conflitos que não eram meus, queria ser advogado, achava que tinha injustiça e queria defender. Faltou maturidade, tinha 16, 17 anos – analisou Victor Andrade. Em sete jogos pela Portuguesa, Victor tem um gol, uma assistência e algumas boas atuações.
Depois de passar por Benfica, Estoril e Vitória de Guimarães, em Portugal, e Munique 1860, na Alemanha, ele rodou por clubes como Chapecoense, Goiás, Remo, Vila Nova e Juventude antes de chegar na Lusa: – Tenho zero frustração na vida. Se eu falar algo que na minha vida foi ruim, teria de ser castigado. Não tenho nada a reclamar.
Há a expectativa que as pessoas criam em você, mas elas que se frustram. E jogam esse peso em cima de você, sabe? – questionou. No Santos, foram 29 partidas e três gols marcados. Em 2013, foi negociado com o Benfica, de Portugal. No reencontro com o ex-clube, já consegue imaginar algumas vaias: – Ah, eles sempre vaiam.
Mas eu fiz um gol contra o Santos pelo Goiás e não comemorei, então eles sabem que tenho respeito pelo clube – lembrou, sobre lance na derrota por 3 a 2 para o Peixe em outubro de 2020, pelo Brasileirão, num jogo que não contou com torcida por causa da pandemia.
O peso de ser mais um ‘Novo Neymar’
Autor de 40 gols em 34 jogos no sub-15 do Santos em 2010, Victor Andrade manteve um bom nível no sub-17 no ano seguinte e, junto de nomes como Neilton e Gabigol, passou a ser tratado como craque. – Sempre fui muito fã do Robinho, desde que eu morava em Aracaju.
Logo que cheguei no Santos, tive como treinador o Betinho, um treinador que levou o Robinho para lá, e ele se identificou com a minha característica. E sempre me destaquei na base. Lá é incrível, não sei se é a água de lá, mas só tem moleque bom de bola.
E dos 13 anos para frente começaram comparações, o Santos tem esse DNA da ousadia, dos garotos não sentirem, e aí eu subi para o profissional em 2012, aos 16 anos. Muito jovem, Victor Andrade passou a ter um salário alto em relação aos companheiros da mesma idade. Em 2012, numa visita a Barcelona, foi chamado de ‘novo Neymar’ pelo jornal Mundo Desportivo.
As comparações a outros craques santistas, para ele, não pesaram: – Era sempre bom, eu sabia meu lugar, sei o lugar do Neymar, do Robinho, esses caras não dá para comparar. Sempre fiquei lisonjeado. Mas não dá para acreditar, isso aí é uma ilusão. É legal ser comparado pelo estilo de jogo, por ser parecido, mas igual eles não têm, eu sou fã destes dois.
– Para quem acredita, essa ilusão é perigosa, sim. Para quem não acredita e tem os pés no chão, é ok. Para quem acredita, pode sair um pouco do caminho. Hoje as pessoas me conhecem melhor. Muitas coisas que falavam não eram verdade e hoje está claro. Fui quebrando essa barreira.
Óbvio que tinha uma expectativa muito grande em relação a mim, mas tive lesões sérias que atrasaram meu percurso.
Pai de Arthur, de oito anos, e de Ravi, de dois, Victor Andrade se diz mais maduro e festeja viver bom momento na Lusa depois de bater a cabeça num time que, em 2024, está na Série A: o Juventude.
Saída conturbada no Juventude
Antes de chegar à Lusa, Victor Andrade esteve no Juventude de julho a novembro no Juventude, mas deixou o elenco do técnico Thiago Carpini, hoje no São Paulo, a três rodadas do fim da Série B, competição que o time de Caxias ficou em segundo e cravou o acesso à elite.
Com 11 jogos e nenhum gol, Victor Andrade era visto como um jogador desinteressado, segundo a reportagem ouviu de pessoas do clube. O atacante admite que não criou grande conexão com Carpini, mas discorda de quem diz que ele não estava compromissado a ajudar o Juventude a subir: – No futebol existem várias verdades. E uma mentira contada várias vezes vira uma verdade.
Quem estava no clube sabe o que aconteceu. O Carpini me procurou e insistiu que eu fosse. Chegando lá, não foi o que tivemos de conversa, teve situações extracampo, nunca foi em campo, gosto de todos, mas vi que tinham coisas que não estavam certas. – Para evitar problemas, eu que pedi a antecipação do contrato para ir embora e evitar conflitos com a diretoria, com pessoas de mau caráter.
Mas deixa isso para lá, não gosto de problema. Falei: ‘Aqui não vai dar certo, vou atrás de um novo caminho’. Foi a melhor escolha que eu fiz. Fui para casa e hoje estou aqui na Portuguesa – disse o jogador.
– Eu deixei bem claro para as pessoas lá dentro do Juventude o que eu achava delas, não foram todas, foram umas duas pessoas, então tive essa conversa de homem para homem e ficou claro – completou ele, sem querer citar com quais pessoas teve desentendimentos.
Veja mais trechos da entrevista:
ge: Quando a Portuguesa anuncia sua chegada, você acha que as pessoas mais acreditaram ou mais desacreditaram que daria certo? – Acho que mais acreditaram.
A resposta da torcida foi muito positiva, fiquei muito feliz, sabia da grandeza do clube, já joguei contra no ano em que subi, em 2012. As contratações foram de bons jogadores, caras que eu conhecia. A Portuguesa chega às quartas depois de 13 anos, com um grande time, um grande grupo, Pintado também deu esse toque final para a nossa equipe.
Será um grande jogo, o Santos teve uma reformulação, tem bons jogadores, conheço bem lá, é minha casa desde pequeno e estou feliz com esse jogo. Hoje alguns torcedores te apontam como um dos melhores do time. Você sente que, em relação a desempenho, esse é um ano diferente? – Tudo acontece muito natural.
Quando você está feliz…Eu sou um cara muito grato a tudo o que passei na vida pessoal e profissionalmente, não tenho que reclamar de nada.
Tenho muita saúde, uma família maravilhosa ao meu lado, e não posso mentir que na Portuguesa me sinto em casa, foi um clube que me abraçou demais, não só os atletas, o estafe, todo mundo que trabalha no clube forma uma família, então estou muito mais contente jogando aqui do que em outros lugares. Quando você está bem, as coisas acontecem naturalmente.
Você tem se destacado com muitos dribles. Sempre teve isso como algo que gosta, que te dá prazer? – Não é nem que gosta ou traz prazer, é natural, desde pequeno eu sempre fui atacante e driblador, é uma característica.
Sempre fui muito agressivo, sempre em direção ao gol, hoje tem muito scout, tem esses dados e estou sempre me destacando (no número de dribles certos), mas isso é o de menos. Bom que está sendo em prol da equipe, ajudou a equipe a classificar, mas não só eu, tem grandes atacantes aqui, a molecada da base subindo. Espero que a gente consiga avançar.
Qual foi seu dia mais marcante no Santos? Foi inesquecível o meu primeiro gol, que foi contra o Cruzeiro, ganhamos por 4 a 2. Marcou bastante. Você diz viver um novo momento.
Como acha que atingiu a maturidade? – Hoje todo mundo tem uma outra imagem minha, devo a isso a caras como Ney Franco, Dado Cavalcanti, ao pessoal do Vila Nova, um clube que fui abraçado. Tanto que lá quase fui vendido ao Fluminense quando rompi o ligamento cruzado. O Pintado também. Óbvio que sempre vai ter gente falando mal, mas é manter a cabeça no lugar e trabalhar.
Lá atrás, no Santos, teve jogadores que te davam bons conselhos quando você surgiu? – Do Neymar eu sou suspeito de falar, quando eu subi ele me ajudou bastante, até depois quando eu ia a Barcelona a gente se encontrava, eu estava na Alemanha (Munique 1860, em 2016), ele me dava muitos conselhos. No jogo me deixava muito tranquilo: ‘A responsabilidade é minha, joga tranquilo’.
O Aranha também que era um cara fora da curva. Acha que você e o Neilton viveram histórias parecidas no Santos? – Não, não, eu e o Neilton foi diferente, foi diferente. Não só o Neilton, mas eu e outros jogadores, cada um tem sua história, tem seu caminho. Ele é um jogador que eu gosto muito, acompanho algumas coisas dele, é um grande jogador.
Se você chega no Santos e joga, qualidade você tem. Óbvio que tem coisas que fogem do controle. Mas a expectativa das pessoas criada em você, elas que se frustram. Algo que alguém te falou na vida te marcou? – Minha mãe sempre me falou: ‘Fala menos e escuta mais’. Acho que se eu tivesse escutado isso desde pequenininho, tinha evitado alguns conflitos (risos).
Mas tirando isso, não tenho nada a reclamar da minha vida. Subi ao profissional num grande clube, joguei em grandes clubes, posso dar uma vida muito boa para os meus filhos e para a minha esposa, estou num clube maravilhoso que é a Portuguesa. Se eu fosse reclamar da vida, falar de algo que poderia ter sido melhor, eu mentiria.
Você é negociado com o Benfica, faz poucos jogos no time principal, depois vai ao Estoril, também em Portugal, tem uma passagem pela Alemanha… Como foi para você sua trajetória na Europa? – Foi muito bom. Cheguei em 2014 ao Benfica e no primeiro ano fiquei todo na equipe B para me adaptar, foi uma escolha deles.
Em 2015 fui ao principal, foi quando joguei a Liga dos Campeões, comecei a jogar e depois fui para a Alemanha. Foi um futebol que me adaptei bem, muito agressivo, muito rápido, para o meu estilo de jogo foi bom. Mas lá tive minha primeira lesão de cruzado, numa pancada que eu levei. Isso atrasou meu processo, voltei ao Benfica e depois fui emprestado ao Estoril. – Mas não tenho do que reclamar.
As lesões me atrasaram, mas joguei em grandes clubes, no Munique 1860, que tenho um carinho enorme, sou até um pouco alemão, amei o país e as pessoas de lá. Sou um profissional muito realizado e muito feliz. Havia algo que você havia projetado para a sua carreira que você se sente feliz de ter realizado? – Meu primeiro jogo da Liga dos Campeões.
Foi contra o Galatasaray, fora de casa, naquela atmosfera surreal, isso me marcou bastante. E quais são suas ambições de futuro? – Eu penso um dia após o outro, sabe? Não costumo pensar em daqui a um ano, dois anos. Muitas coisas acontecem, boas e ruins. Meu foco hoje é essa crescente da Portuguesa.
Fonte: © GE – Globo Esportes
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