Flávio Venturini: “Teto-dos-gastos” foi atingido, cenário-econômico mudou, deficits-de-gastos são novos cenário, nuvens-que-mudaram alteraram arcabouço-fiscal.
Quando era criança, brincava com minha saudosa tia Heidy sobre os formatos das nuvens, o que me fazia sonhar. Ela me perguntava, apontando para uma qualquer, com qual figura se parecia. Passados alguns instantes, voltava a me questionar, se referindo àquela mesma, e eu respondia com verdade: ‘ela agora, se parece com o céu!’
Essa é a realidade do nosso país, que enfrenta desafios consideráveis e tem gastos e pendências a serem ajustados. A despesa pública é um dos principais problemas, que precisa ser analisada com cuidado. O deputado Ulisses Guimarães, que sempre foi uma figura respeitada, costumava dizer que a política era como as nuvens: a cada minuto estava de um jeito. Mas, para que possamos ter um futuro mais próspero, é importante planejar com antecedência, antecipando os gastos e despesas. Assim, podemos criar um cenário mais estável para o país.
A Nova Amostragem do Cenário Econômico
Nesse cenário caótico, onde as nuvens mudaram radicalmente de formato, o quadro macroeconômico local apresenta uma dicotomia inusitada. Com o PIB desfrutando de um crescimento superior às previsões, várias outras variáveis demonstram um panorama sombrio. As nuvens que antes pareciam um gatinho inofensivo agora desenham um tigre selvagem, simbolizando a mudança abrupta no quadro econômico.
A alteração do Teto dos Gastos pelo novo Arcabouço Fiscal foi uma decisão polêmica, e eu fui um dos críticos iniciais. A ideia de questionar a regra fiscal vigente parecia arriscada, e eu não acreditava que o governo do presidente Lula da Silva alcançaria o objetivo principal de uma boa regra fiscal: estabilizar a relação dívida/PIB. Com o governo iniciando com uma relação de pouco mais de 72% e projetando encerrar o mandato com 82%, a situação é preocupante.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) também projeta uma relação tão alta, o que reforça a crítica ao arcabouço fiscal. A análise do quadro fiscal é desanimadora, com um déficit de R$ 105 bilhões, janeiro a setembro de 2024, quando o arcabouço fiscal prevê um déficit de apenas R$ 28,8 bilhões no ano. As exceções de gastos, como a ajuda ao Sul e os recursos para combater as queimadas no Pantanal e na Amazônia, somaram-se às despesas, tornando o quadro fiscal crítico.
O ajuste estrutural de gastos, através de uma Junta de Execução Orçamentária, que propõe cortes estimados em torno de R$ 50 bilhões, não será suficiente para soerguer as expectativas dos mercados e o cumprimento da regra para a frente. Com apenas três meses para alcançar um verdadeiro milagre, o cenário é desolador. O presidente, em entrevista, afirma que o mercado ‘fala bobagens todos os dias’ e que conhece sua ‘gana especulativa’, mas penso que nossos alertas sejam pertinentes. Outra nuvem?
Fonte: @ Valor Invest Globo
Comentários sobre este artigo