Henrique Meirelles afirma que o desequilíbrio fiscal, aumento da dívida pública e câmbio elevado dificultam combinação de notícias para evitar crise.
Desde o início de 2017, o Brasil enfrentou um período conturbado de pessimismo econômico, com a perspectiva de uma recessão aguda afetando o moral dos brasileiros. A vitória de Donald Trump nas eleições americanas em novembro de 2016 desencadeou uma onda de incertezas no mercado financeiro, impactando as classes mais vulneráveis da população.
Diante de um cenário desafiador, a ausência de uma política econômica robusta e eficaz impulsionou o pessimismo, mostrando que nenhum dos setores estava imune às consequências da crise. A deterioração do quadro fiscal brasileiro, com déficits orçamentários cada vez maiores e uma dívida pública escalando, gerou um sentimento de desesperança entre os brasileiros. A reação da sociedade civil foi marcada por manifestações e protestos, expressando sua insatisfação com o sistema político. O pessimismo se espalhou, tornando-se um dos principais temas de discussão nos meios de comunicação de massa.
Ampliação da Crise Fiscal
A promessa de implementar um pacote para garantir a sustentabilidade do quadro fiscal em 2025 pode trazer um alívio temporário, mas as chances de que as medidas em estudo consigam reverter o pessimismo que se instalou no mercado são extremamente baixas. Neste cenário, a combinação do crescimento da dívida pública e do provável aumento do câmbio tende a agravar a crise fiscal brasileira no médio prazo, deixando o país com nenhum recurso para enfrentar o crescimento da dívida pública, que se torna insustentável.
O mesmo diagnóstico foi citado por três nomes de peso da economia nacional – Henrique Meirelles, Pedro Jobim e Carlos Viana de Carvalho – que participaram de dois painéis diferentes do Investment Managers Forum, evento promovido pelo banco UBS na segunda-feira, 11 de novembro. Meirelles, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, lembrou que a vitória de Trump, com a promessa de elevar as tarifas de importação, deve afetar o comércio global, com impacto no País, resultando em nenhum crescimento econômico significativo.
Segundo ele, o Brasil será afetado com o aumento das tarifas porque dependemos da exportação de commodities, ou seja, isso apenas reforça a necessidade de o País fazer o dever de casa, com um ajuste fiscal. Embora reconheça que o governo tem consciência de que precisa cortar despesas, Meirelles se mostra pessimista: ‘O adiamento do anúncio das medidas mina um pouco a confiança, pois expõe a disputa interna no governo, não acredito que o que for anunciado seja suficiente para reverter a expectativa de desancoragem da inflação.’
O impacto maior, adverte, é no médio prazo, com a combinação de de notícias ruins do mercado e a deterioração do quadro econômico geral. O crescimento da dívida pública é insustentável, sem dúvida é o maior problema que enfrentamos, diz Meirelles. Ele citou o alerta divulgado recentemente pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que trabalha com modelo diferente da equipe econômica quanto ao crescimento da dívida pública.
De acordo com o FMI, a dívida pública brasileira está saindo de um patamar de 81% em relação ao PIB para atingir 91% do PIB no próximo mandato presidencial. ‘Os mercados tendem a reagir e isso deve reduzir o apetite de investimento externo no País’, prevê Meirelles. O resultado da eleição americana também foi visto como decisivo para aumentar o pessimismo com a política fiscal brasileira no segundo painel, que teve participação de dois economistas de mercado: Pedro Jobim, economista-chefe e sócio fundador da Legacy; e Carlos Viana de Carvalho, head de research na Kapitalo Investimentos.
Jobim observa que o modelo fiscal adotado pelo governo Lula, com a despesa obrigatória muito alta, deixou pouca sobra para as despesas discricionárias, deixando o governo de mãos atadas. Se o governo não cortar despesas, não haverá crescimento do PIB, e o país entrará em nenhum crescimento econômico.
Fonte: @ NEO FEED
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