O Instituto Oswaldo Cruz liderará um teste clínico histórico para a saúde pública mundial, desenvolvendo uma vacina contra a hanseníase, utilizando tecnologia de subunidade, em estudos com humanos, para fortalecer o sistema imunológico contra doenças negligenciadas, influenciadas por determinantes sociais.
O Instituto Oswaldo Cruz (IOC), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), assume um papel fundamental na luta contra a hanseníase, liderando um teste clínico inovador que pode revolucionar a saúde pública mundial. Esse estudo é uma etapa crucial no desenvolvimento de uma vacina eficaz contra essa doença.
A hanseníase, também conhecida como lepra, é uma doença crônica que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. A busca por uma vacina é um passo importante para controlar a propagação da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A vacinação é uma das ferramentas mais eficazes para prevenir a hanseníase. Com o avanço desse teste clínico, a esperança é que possamos alcançar um futuro onde a hanseníase seja uma doença do passado.
Avanços na Luta Contra a Hanseníase
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou recentemente a realização de testes em humanos para a vacina LepVax, desenvolvida pelo Access to Advanced Health Institute (AAHI), um instituto americano de pesquisa biotecnológica sem fins lucrativos. Essa vacina é candidata a ser a primeira a combater a hanseníase, uma doença também conhecida como lepra, que afeta milhares de pessoas no Brasil e em todo o mundo.
Com a tecnologia de subunidade proteica, a LepVax teve testes pré-clínicos promissores contra a bactéria Mycobacterium leprae, causadora da doença. Antes de chegar a etapa de estudos em humanos no Brasil, que contará com 54 voluntários, a vacina já teve sua segurança demonstrada em testes em 24 pessoas sadias nos Estados Unidos. O estudo mostrou a segurança da vacina, sem nenhum registro de evento adverso grave, e também apontou imunogenicidade, ou seja, capacidade de estimular a resposta imunológica.
Desafios e Oportunidades no Combate à Hanseníase
O Brasil concentra 90% dos casos da doença no continente americano e também é o segundo país do mundo em número de notificações da doença, atrás apenas da Índia. Em dez anos, de 2014 a 2023, foram quase 245 mil novas infecções, segundo o Ministério da Saúde. Apenas em 2023, foram registrados 22.773 novos casos. Considerando o cenário epidemiológico do país, os pesquisadores acreditam que possivelmente o sistema imunológico de grande parte dos brasileiros teve contato anterior com micobactérias, o que pode influenciar na resposta à vacina.
A chefe do Laboratório de Hanseníase do IOC/Fiocruz, Roberta Olmo, destaca que a realização do ensaio clínico da LepVax no instituto da Fiocruz reflete o grau de maturidade alcançado ao longo de anos de trabalhos pioneiros do laboratório, que permitiram conquistar o reconhecimento da comunidade científica nacional e internacional. ‘A eliminação sustentada da hanseníase enquanto problema de saúde pública requer uma vacina. Neste cenário, a LepVax surge como uma vacina profilática e terapêutica, que poderá contribuir para as metas de controle da doença’, afirma ela.
Enfrentando as Doenças Negligenciadas
O enfrentamento da hanseníase está no escopo do Comitê Interministerial para Eliminação da Tuberculose e Outras Doenças Determinadas Socialmente (Cieds), instalado em junho. O grupo de nove pastas é liderado pelo Ministério da Saúde para buscar soluções contra doenças negligenciadas, muitas vezes associadas à pobreza e a outros determinantes sociais. Para a hanseníase, as metas incluem a interrupção da transmissão em 99% dos municípios, a eliminação da doença em 75% dos municípios e a redução de 30% do número absoluto de novos casos com incapacidade física aparente no momento do diagnóstico até 2030.
Fonte: © TNH1
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